Vento no litoral às 6:30 da manhã

Escrevo esse texto com meus pés afundando na areia a cada onda que chega. A água não está tão gelada, até queria entrar, mas não tenho a roupa certa aqui comigo agora.

Acordei cedo demais hoje, um milagre, confesso. Arrumei algumas coisas na mala e fiquei sentada na cama, pensativa do que fazer.

Não sabia se esperava as meninas que estavam comigo acordarem para decidir, mas aí lembrei que hoje era meu aniversário de trinta anos. Eu sempre fico angustiada nos meus aniversários, mas prometi que esse ano eu tentaria fazer diferente. Uma das minhas metas para essa nova fase da minha vida era não esperar nada e nem ninguém se eu tivesse com vontade de fazer algo. Isso é libertador, mas ninguém avisa o quanto é tão difícil.

Então eu simplesmente troquei de roupa e vim molhar meus pés no mar para me "despedir", já que volto hoje para minha cidade.

A praia já está bem movimentada para 6:30 da manhã. O mar está mega agitado, cheio de surfistas, mas ainda assim, é lindo. As ondas de longe estão gigantes e agressivas, mas chegam onde estou calmas e pacíficas.

O vento também está forte e me lembrei da crônica Banhos de mar da Clarice Lispector. Eu sempre repito do começo como um mantra quando estou pertinho do mar: "O cheiro do mar me invadia e me embriagava".

Às vezes falo até zoando. Mas, apesar disso, esse texto sempre me vem em mente quando vou para a praia.

Fiquei esses dias descansando e procurando uma mensagem do universo para esse novo ciclo: sair da casa dos vinte anos. E essa hora da manhã acho que essa visão pode ser uma metáfora: De longe as ondas, são coisas que parecem perigosas, podem até ser mesmo, já que não sei nadar ou surfar, mas quando chegam perto fazem até bem e dão uma sensação gostosa, até uma energizada.

Posso estar viajando nisso, afinal ainda não tomei meu café da manhã e meu raciocínio é meio lento antes das 10.

Vim em busca de um sinal e tem umas pessoas me olhando estranho e meio torto, mas aí que está. Essa nova fase, nesse meu Retorno de Saturno, quero me importar menos com esses olhares e viver de uma forma mais autêntica, assim como que aprendi lendo o livro com esse mesmo nome.

Tem pessoas correndo e se exercitando e fico imaginando que são malucas por acordarem tão cedo para isso. Se eu morasse perto do mar talvez faria como elas? Tudo parece tão melhor perto do mar.

Olhei para o relógio do celular, e vi que meu momento de contemplação acabou. Vou caminhando de volta para o hotel, porque tenho que voltar para casa, encarar 7 horas de viagem e torcer para não passar mal no caminho.

Detesto o dia de ir embora e toda essa cerimônia de despedida, por mais que seja um até logo. Só que ao mesmo tempo eu adoro retornar para casa e ter a sensação que tenho para onde voltar, o meu lar, minha cama e minhas coisas.

Essa praia tem um significado especial. Foi a primeira que conheci na vida. Primeiras vezes tem uma nostalgia absurda. Talvez eu já tenha vindo e vivido mil coisas aqui em outras vidas. A ligação, meio que desconectada dessa vez por ter passado tão rápido, é pura demais.

Sinto que quem fica tem uma sorte enorme. Também já fui uma dessas pessoas em algum momento. Cheguei enquanto outros estavam indo embora.

É uma sensação estranha que me lembra da continuidade da vida, ou como dizia Renato Russo:

"Quando vejo o mar existe algo que diz que a vida continua e se entregar é uma bobagem"

Queria deixar para trás mais coisas além de uma praia linda. Só que ainda tenho pensamentos, sentimentos e medos que insistem e me lembrar que estão vivos dentre mim, indo e vindo como as ondas, mesmo respirando com a ajuda de aparelhos.

Já entendo algumas coisas sobre isso e tenho a humildade de ver que vou aprender tantas outras lições e dar tempo ao tempo. Sei que fazer 30 não precisa ter esse peso todo, como se fosse um marco definitivo, mas tem algo quase místico nisso.

Espero que eu descubra logo.

Enfim postando em casa.

Bem-vindos 30.