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Sobre o básico que virou "pedir demais", o livro "Métrica" e "os jogos"

  • Foto do escritor: Salivrando - Nay Coelho
    Salivrando - Nay Coelho
  • 14 de dez. de 2023
  • 10 min de leitura

Atualizado: 21 de dez. de 2023

Esse texto é contraindicado em caso de suspeita de não-emocionados e jogadores compulsivos.


Imagine a seguinte situação: você descobre que está participando de um jogo que não sabe as regras, mas se viu obrigada a entrar, porque, aparentemente, está todo mundo jogando. Para piorar, percebe que ninguém quer questionar nada sobre ele ou até parar. Mesmo odiando toda a dinâmica.

Foi essa comparação um tanto infeliz que percebi o fato de que aparentemente existe um pacto coletivo, um game rolando que eu não fui informada das regras, mas que assim como todo mundo, eu tenho que jogar se eu quiser me adequar.


Bom, eu explico: Já estou uns anos trabalhando nessa indústria cinematográfica chamada "vida de solteira" então tenho um bom lugar de fala para dissertar sobre esse assunto que vez ou outra bate na porta para me assombrar. E colocando minhas expectativas para lidar com a realidade de como as relações estão hoje, cheguei a algumas conclusões e reflexões pessoais (que podem ser verdades ou apenas delírios da minha cabeça criados após experiências ruins):


Zygmunt Bauman, o sociólogo polonês autor do conceito "Modernidade Líquida".


Entre um date ou outro, percebi o quanto as relações, sejam casuais ou não, estão mudando na mesma velocidade que as coisas vão se atualizando. A tal da Modernidade Liquida, em que nada mais é feito para durar. Isso acontece muito isso nas redes sociais e aplicativos de relacionamento. Tudo se tornou um jogo, principalmente para os caras.


DICA DE LEITURA BABADEIRA SOBRE O ASSUNTO:


Amores eternos de um dia - Michele Contel


Se o nosso cérebro reptiliano parece que vai entrar em colapso a qualquer minuto por não dar conta de evoluir rápido a ponto de entender e assimilar totalmente a velocidade que isso acontece, imagina o nosso coração?


Pessoas que como eu passaram a adolescência se alimentando de comédias românticas e declarações de amor intensas, estão se ferrando (e muito) com o jeito que as relações (pelo menos as heteronormativas, que é o foco desse texto) estão se encaminhando. Fundo do poço? Um pouco mais pra baixo por favor.


TRADUÇÃO LIVRE: Mas hoje é como se houvesse o fundo do poço, depois 15 metros de merda, depois eu.


Não me entendam mal, eu gosto da vida de solteira, mas isso não quer dizer que eu não queira algo também (pós graduada em comédias românticas, lembram?). Mas nessa vida de conhecer alguém legal para cogitar alguma coisa, acho que passei da cota de ficar "beijando sapos" para encontrar "príncipes".


A impressão que tenho é que os príncipes se comportam cada vez mais como os sapos, com as mesmas falas e mesmos problemas e no fim das contas são todos do mesmo brejo.


Sim, eu já descobri na terapia que tem um padrão internalizado comigo, (e provavelmente todo mundo também tem um) antes que falem para eu olhar para meu próprio umbigo primeiro, ou até esbravejar um "nem todo homem é assim", eu sei, eu sei. O que acontece é que o tanto de vezes que o ciclo repete me deu a sensação de que 90 por cento dos caras são jogadores compulsivos e que na real, eu não estou ficando tão maluca assim.


Isso são o que mostram as conclusões dos dados das pesquisas: MINHA VIDA PESSOAL e AMIGAS E MULHERES QUE CONVERSO SOBRE RELACIONAMENTOS, e RELATOS DE PESSOAS ALEATÓRIAS NA INTERNET.


A verdade é que o jogo que estão jogando e nos colocam sem a nossa vontade, cansa, e claro, sem partir para o ponto de vista cultural e antropológico da coisa, algo em comum dessa situação é que quem mais sofre com isso, para variar, somos nós mulheres.


Enquanto nós só estamos querendo que os caras possam ter o bom senso de oferecer de coração, o BÁSICO, nos deparamos cada vez mais com atitudes clichês e mulheres sendo vistas como as "chatas" e "pegajosas" por ter que "cobrar", o que era para já vir pronto da fábrica.


Sabemos que tudo precisa fluir naturalmente, mas o nível de frustração que nos deixam com isso, só nos faz ativar esse infeliz arquétipo de controladora automaticamente. Ou isso, ou viramos jogadoras sem querer ou mesmo sem saber jogar.


Mas é aquela velha máxima, cada um dá o que tem e (depois de tomar muito na cara) entendi que forçar qualquer tipo de conexão destroça nossa saúde mental e sanidade.


Mas Nayara, o que é o básico para você?


Já mudei essa resposta conforme o tempo foi passando, mas hoje em dia, me pego respondendo perguntas que fazem parte da minha checklist pessoal (muito diferente do "ganhou pontos comigo", vale ressaltar).

É só um exame de consciência vibes "estou aceitando o que eu realmente mereço ou me apegando a migalhas?". Então lá vai o meu basicão:


  • Perguntou se chegou bem em casa?

  • Mandou mensagem no dia seguinte?

  • Fico tranquila quando estou perto ao invés de me sentir ansiosa?

  • Não vê problema em encontrar em lugar público?

  • Se interessa pelo que eu faço da vida?

  • Merece um segundo date?

  • Beijo bom? Química boa?

🚨Alerta de perigo porque essa última pergunta tem (aparentemente) um peso maior que as demais.🚨


O livro "MÉTRICA" da Collen Hoover me inspirou um pouco (junto com a terapia) a me fazer as minhas próprias perguntas para entender "onde é que eu estava errando" e quais seriam os meus valores inegociáveis. Engraçado que esse foi o que menos gostei da Collen e o que me deu essa boa lição para levar para a vida. Ai ai, os livros e suas surpresas.



Enfim, na história a personagem Júlia fala algo parecido para a sua filha Lake sobre "saber se um cara é para você ou não". Ela diz que existem 3 perguntas que se a resposta de todas elas for SIM, beleza, você investe, mas se forem não, mete o pé o mais rápido que puder. Acho inclusive que vale para os dois lados. São elas:


1 - Ele te trata com respeito o tempo inteiro?

2 - Se daqui a 20 anos ele fosse exatamente a mesma pessoa que é hoje, você ainda assim se casaria com ele?

3 - Ele faz com que você queira ser uma pessoa melhor?


Se achou legal a premissa, tem resenha da série "Slammed", da qual esse livro faz parte CLICANDO AQUI.


Claro que o contexto do livro era diferente, mas não deixa de ajudar a argumentar questões importantes:

Quando foi que esperar o básico fez a gente se questionar "será que estou pedindo demais?" acompanhado de "não posso falar um A porque não temos NADA"?


Quem inventou as regras malucas e sem sentido desse jogo de desinteresse? Porque sim, na lógica do jogo, se você está interessado e demonstra, você está jogando errado. Odeio jogos.


E com tanto descaso, parece que estamos sempre PEDINDO DEMAIS. As redes sociais ajudam nisso, nos fazem romantizar likes, visualizações e curtidas em storie, etc, quase que nos deixando refém dessas coisas fúteis que estão longe de serem BÁSICAS. Para uns isso pode até ser, mas não devia. São apenas migalhas de afeto e penso que todo mundo já passou da hora de estar pronto para essa conversa.


"Homens só tratam bem outros homens". É uma frase de senso comum que tem proporções enormes. Vejo caras passarem como furacões na vida de mulheres incríveis, tirando todo aquele brilho delas e depois seguindo a vida normalmente e se achando fodas por serem livramentos. E O PIOR: CIENTES DO QUE ESTÃO FAZENDO. A questão é que parece fazer parte da premiação do jogo ser um "livramento", mais do que ser uma "benção" na vida das pessoas que se envolvem.


Muitos querem os benefícios de um relacionamento sem a responsabilidade de estar em um. Tudo bem também querer se relacionar dessa forma, desde que a outra pessoa envolvida esteja ciente disso e concorde, lá no começo. Ao invés disso os caras querem esperar completar as "Bodas de 1 ano de ficantes" para ter a temível "conversa". Saber o que quer é importante nessa situação. Conversar sobre as intenções, também. (Autocrítica)

Isso traz a tona também uma questão importante que diz respeito a nossa seletividade e o que nós estamos querendo de cada pessoa que chega em nossas vidas.

- Mas por que escolhemos pessoas assim?

POSSÍVEL RESPOSTA BASEADA EM MEUS ACHISMOS: A maioria chega em uma relação nova com suas melhores máscaras. No primeiro date é quase uma regra esconder os defeitos, mostrar o melhor lado. Só que infelizmente existem pessoas viciadas em tentar se manter naquele personagem do primeiro date para sempre. Não falo só dos caras, porque existem mulheres que são assim, poucas, mas existem. E no nosso íntimo queremos acreditar que "agora vai", já que estar sempre tentando, cansa. Porém chega uma hora que a casa cai. Ninguém consegue se manter no personagem por tanto tempo. E, infelizmente, existe muita gente ruim solta por aí que não se importa mesmo de estar enganando alguém.


Onde estão aquelas pessoas que não tem vergonha nenhuma de serem emocionadas e estão na mesma vibe que a gente? (Provavelmente há quilômetros de distância, mas é só minha teoria)




Quando estava conversando com um amigo sobre um desastre amoroso que vivi recentemente ele me disse:

"Sem querer ser chato, mas você devia se cuidar mais em relação às pessoas que você conhece".

Ele tem razão? Sim. As merdas entram em nossa vida quando alguém abre a porta. Ser seletiva é importante, até pra se blindar, e entendo que ninguém é perfeito e procurar por perfeição é impossível. Tentamos melhorar do lado de cá, esperando o mesmo do lado de lá, mas isso não acontece muito. Com isso comecei a pensar muito na seguinte pergunta:


Por que a maioria dos homens não se esforça nem um pouco para melhorar, enquanto as mulheres estão se tratando, fazendo terapia, cursos ou até apelando para a fé para tentarem ser "escolhidas" ou "notadas" pelos caras?

(Quem souber a resposta, me fala, por favor 👍🏼).


Em conversa com amigas e pessoas próximas que são solteiras, o papo que ouvimos de corpos diferentes é quase sempre o mesmo. Parece regra do jogo e nada muda e chega até a ser engraçado, tanto que resolvi fazer um TOP 4 para ilustrar o que estou dizendo:


TOP 4 DESCULPAS QUE MULHERES SOLTEIRAS OUVEM, JÁ OUVIRAM OU AINDA VÃO OUVIR EM ALGUM MOMENTO DA VIDA:


1- "Jura que você pensou que eu só queria sexo? Não foi minha intenção" - eles disseram.

Boa intenção deles: Não fazem um elogio sequer que não seja em foto de biquini (o famoso BOY IML), ou fazem todo assunto migrar para o cunho sexual.


2 - "Ah, mas você deve ter confundido os sinais" - eles disseram.

Sinais: Conversar o dia todo, criar intimidade, fazer planos futuros, apresentar a família, etc. Sim, com certeza fomos nós mesmas que confundimos as coisas.


3 - "Desculpa, não quis te deixar mal" - eles disseram.

O não deixar mal deles: Tirar o corpo fora aos poucos ao invés de serem diretos com suas intenções, ignorar e até dar ghosting. Até porque sabemos que os caras são naturalmente mais diretos com suas vontades. Se fazem o que fazem porque "NÃO queriam nos deixar mal", imagine se quisessem, hein?


E A MAIS CLÁSSICA DE TODAS:


4 - "Não quero um relacionamento agora" - eles disseram depois de meses ficando.

O que queriam dizer é: Não queria mesmo um relacionamento, MAS COM VOCÊ.

PREMONIÇÃO BÔNUS: Aparecem namorando pouco tempo depois.


Sobre essa última, minha psicóloga lançou a braba me dizendo algo muito sério e verdadeiro:

Ninguém é obrigado a nos escolher, então escolha quem também te escolhe de volta. Só não se abandone mais!

Tudo bem que existem trocentas formas de se relacionar e se amar hoje em dia e que cada relação tem as suas regras, mas antes de tudo, temos que saber qual é a nossa (cof cof) linguagem do amor (cof cof) para saber se a pessoa fala a mesma língua que a gente. O famoso: o conversado não sai caro.


Meu (espero que último) banho de água fria foi encontrar alguém que também se intitulou emocionado, tem coisa pra caramba em comum, e depois de fazer aquele exame de consciência pós date, não me ofereceu nem o primeiro item básico do meu checklist.

O corpo fala, atitudes ou a falta delas, também. Então a mensagem, mesmo que não verbalizada era clara: Só tenho isso para te oferecer. VAI PEGAR OU LARGAR? Se eu vou aceitar isso, aí é pular de cabeça na piscina rasa, mesmo que a piscina beije bem. Estou ciente e quero continuar? Se sim, o ciclo pode se repetir, se não...


Estou aprendendo na marra que as pessoas dão sinais o tempo todo, nós vamos com tudo ignorando essas red flags, porque, em nosso íntimo, queremos que as coisas sejam diferentes. Aquele pontinho de esperança fica ali, ainda brilhando para que as pessoas correspondam as nossas expectativas, nem que seja o básico do básico.


Claro que tem muita psicologia envolvida nisso. Faço terapia há anos para saber que a mente reconhece o que já conhece e tem tendência a seguir padrão que vem da infância e blá-blá-blá, e entendo bem que nem toda pessoa que eu conheço precisa virar um relacionamento.


Tem os amores de um rolê, e ok, beleza. Mas só por ser casual não podemos esperar o básico? De acordo com as regras do jogo, parece que não. E quanto mais tentamos entender os motivos, parece que pior fica. Já cantava o meu divo Julian Casablancas:


TRADUÇÃO LIVRE: Quanto mais fundo eu vou, menos eu sei. É assim que acontece,


E olha, vou falar para vocês, o tanto que isso nos consome, tira o nosso sono e paz, se os caras sentissem 10% disso, talvez poderiam ter um pouco de empatia e se empenhar um pouco para melhorar.


Então porque tratar com afeto quem trata com frieza?

Não sei dizer os motivos dos outros, mas o meu é unicamente porque trato da forma que eu quero ser tratada também (Iludida? Talvez). Um pouco de afeto não faz mal a ninguém. Só que os jogadores que não sabem receber afeto, jogam, esquecendo que estão lidando com PESSOAS.


Sei que todo mundo rejeita ou já foi rejeitado por alguém, e devemos sempre nos priorizar, mas a rejeição é um veneno quase mortal. Essas conversas desagradáveis precisam acontecer, infelizmente.


Esse texto não é uma verdade universal. As relações, experiências, vivências e pontos de vista são muito individuais, e podem existir coisas em comum com outras histórias. Não estou no topo da pirâmide do autoconhecimento, ainda erro e vou errar muito nessa vida, mas aos poucos, vou chegando lá.


Então finalizando o texto (ufa) deixo aqui para as mulheres e pessoas incríveis e corajosas que já passaram por algo do tipo e se leram aqui em algum momento, o recado:


Não estamos fazendo nada de errado. Tem algo maior que nós e confiar na nossa intuição desde o começo, fazer nosso checklist pessoal ou responder sim para as perguntas do livro "MÉTRICA", podem sim nos tirar de muitas furadas. Aprender a cuidar mais e entender mais o lado de cá, do que o de lá ajuda a não nos abandonarmos mais (autocrítica).


E para os queridos jogadores compulsivos:


Melhorem.



- Nay Coelho


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SALIVRANDO

 criado por    Nayara Coelho

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