CONTOS DO ROCK: Aquele com o beijo no Dinho
- Salivrando - Nay Coelho
- 3 de ago. de 2024
- 8 min de leitura
Atualizado: 4 de ago. de 2024
Sempre fui muito sonhadora. Já tive alguns sonhos que pensei "Cara, isso nunca vai rolar, mas vou me permitir imaginar como seria, só um pouquinho".
E não é que um dia, um deles se realizou mesmo?
Um dos inúmeros cenários que imaginava desde criança (e levei para a adolescência) era ir no show e conhecer a minha banda favorita, o Capital Inicial.
Meu amor por eles começou desde o dia que meu pai chegou em minha casa com vários DVD' s novos e um deles era o "Acústico MTV" do Capital. Aqui em casa a gente assistia esse DVD quase que religiosamente e um mundo se abriu na minha mente quando conheci a banda. Aquelas músicas do acústico me ganharam de primeira. Eu tinha até um namorado de mentirinha quando era criança, que chama Dinho, dá para acreditar?
Anos depois uma tia muito querida me deu de presente o DVD do Capital Ao vivo em Brasília, então o amor só enraizou.
Eles me remetem muito a essa época especial e nostálgica da minha vida, meados dos anos 2000. Saudades.
Mas voltando ao assunto...
O ano era 2013. Aqui na minha cidade (Barbacena - MG) acontecia a tradicional Festa da Rosas, um evento com alguns shows, a maioria, sertanejo ou o que tivesse na moda. Só que nesse ano, porém, fui surpreendida com a notícia de que um dos shows seria do Capital Inicial (com ingresso a 20 reais na época, que pra mim era uma fortuna)
Eu não estava preparada. Não tinha nem roupa para isso.
Acontece que meses antes eles vieram em uma cidade vizinha e não consegui ir ao show. Isso porque meu irmão mais velho não quis me levar. Não preciso nem dizer o quanto isso me deixou tão chateada. Então quando soube que eles viriam aqui, eu quase chorei de emoção. Era a minha redenção, o meu momento. Passei anos me refugiando nas músicas deles, rindo, chorando, e finalmente teria a chance de ver a minha banda favorita ao vivo. Era alegria demais para mim.
Pode até parecer bobo, mas se vocês já estiveram prestes a fazer algo que sonharam muito, vocês vão entender meu lado! (Amor de fã é um trem de doido!)
Então imaginei, sonhando outra vez, em como seria legal não só ir no show, mas conhecer os caras da banda também, tirar uma foto, conversar, fugir com eles (essas coisas de fã girl). Eu sabia também que era algo praticamente impossível, porque, como eu iria fazer isso?
Estava tudo tão confuso, que o dia do show chegou e eu nem tinha comprado ingresso ainda, nem as amigas que iriam junto comigo. (Sorte a minha que elas também gostavam de Capital) Só que mesmo assim minha intuição estava gritando que ia acontecer alguma coisa boa, eu só não sabia o que era.
Então o dia do show chegou e ficamos sabendo que eles já estavam na cidade, hospedados em um hotel no centro, o único daqui que as pessoas famosas se hospedavam.
Não sei explicar, mas eu sentia que estava cada vez mais perto de realizar esse sonho, era bizarro.
Na adrenalina fomos nós para a porta do hotel tentar a sorte. Ainda estava de tarde e provavelmente eles estavam descansando. Tentamos conseguir alguma informação do horário que eles iriam sair para o show, mas os próprios funcionários que transitavam ali falaram que eles não estavam no hotel.
A conta não batia. Estava um vai e vem danado de pessoas da produção, além do ônibus deles estacionado lá perto, então não tinha como eles não estarem lá.
Até que a primeira coisa legal do dia aconteceu: Conhecemos umas mulheres que eram de um fã clube de BH e vieram amigavelmente conversar com a gente. Disseram que eles estavam lá sim, e que o baterista estava, inclusive, no restaurante do hotel naquele momento.
Fiquei eletrizada com a informação, e poucos minutos depois, estávamos nós conversando com o baterista do Capital Inicial, o Fê Lemos. Ele saiu do restaurante e desceu até a porta para conversar com a gente e tirar umas fotos. FOI IN-CRÍ-VEL.

Ele podia ter nos ignorado, mas foi super simpático e conversou com a gente um tempão, depois foi embora para o quarto.
Momentos depois um dos guitarristas, o Fabiano Carelli, desceu e conversou com a gente também. Isso porque vimos ele passando rápido na sacada do hotel e pedimos uma das funcionárias pra chamar ele. Parecia que tinha acabado de acordar, tadinho, então não ficamos muito no pé dele, só trocamos uma ideia rapidinho e tiramos uma fotinha.
Hoje em dia eu entendo como essas situações devem ser estressantes para artistas, mas naquele tempo, eu meio que não ligava, esquecia total que eles também são seres humanos como nós.

A esperança tomou conta de mim e das minhas amigas com esses primeiros contatos com o Capital. Por mais que eu fosse fã da banda toda, eu queria ver o Dinho. Crush da adolescência, sabem como é?
Esperamos horas e horas, mas nem sinal dele. Aquilo me entristeceu um pouco.
Não me lembro bem se foram as moças do Fã Clube, mas alguém sugeriu que voltássemos a noite, quando eles fossem sair para o show e tentar a sorte de novo.
Só que isso era uma opção arriscada por 3 motivos:
Eu ainda não tinha ingresso para o show, então nem sabia se entraria. Não me lembro o porque de não ter comprado, mas eu não tinha grana e jogo de cintura pra resolver as coisas com antecedência.
Não sabia que horas eles iam sair.
Não fazia ideia como iria do hotel para o Parque de Exposições depois. Ainda não existia uber e eu era estudante então os táxis não eram uma opção financeira viável.
Então voltamos pra casa, tristes e sem saber o que fazer. Éramos todas muito novinhas pra ter uma outra solução melhor. Cheguei em casa e depois de queimar todos os neurônios possíveis, pensei no quanto esperei por um momento daqueles, então movida por isso, decidi arriscar.
Chamei as meninas, arrumamos e quando anoiteceu fomos lá para porta do hotel de novo, mais ou menos uma hora antes do que estava marcado o show. Estava bem mais movimentado que a tarde. Haviam duas vans paradas na porta, um entra e sai de pessoas e a ansiedade rolando solta.
Vimos o segurança do Dinho descer. Isso deu esperança de novo, mas ele foi super grosso quando perguntamos sobre o Dinho. Um banho de água fria.
De repente as moças do fã clube que conhecemos a tarde apareceram e vieram falar com a gente outra vez. Disseram que iam para o show em uma das duas vans estacionadas. Explicaram que uma era para a banda e outra para os convidados do pessoal da banda. Achei bem chique, mas elas não entraram muito em detalhes, apenas despediram, desejaram sorte, entraram na van de convidados e sumiram da nossa vista.
De repente tudo aconteceu quase em time-lapse.
Uma movimentação rápida dentro do hotel começou. Pessoas começaram a se juntar perto no saguão. Da rua era possível ver, porque o vidro da fachada do hotel era transparente.
O elevador se abriu e...
Lá estava ele.
Era o Dinho Ouro Preto e o seu segurança educado.
Foi uma loucura.
Eu e as meninas ficamos sem saber o que fazer. Quem ia tirar foto de quem, quem ia falar com o Dinho. Sei que foi tudo muito rápido.
E essa questão de tirar foto era complexa. Eu tinha um celular da Nokia de "abrir e fechar" que a câmera tinha a resolução mínima. Sorte que uma de nós tinha um melhorzinho e ficou por conta das fotos, já que nem câmera digital lembramos de levar.
Então, agora em câmera lenta (na minha mente) o Dinho saiu e foi aquele auê. Nítido que ele estava mais do que acostumado com tudo aquilo. Tanto que ele já saiu pronto pra posar pra fotos. Imagino que para um rockstar tudo aquilo é decorado. Os fãs tem o mesmo rosto, falam as mesmas coisas e acaba tudo virando muito corriqueiro. O segurança dele deu espaço e nós aproximamos.
Ensaiei aquele momento tantas vezes na minha mente, mas na hora, não consegui falar nada. Eu travei totalmente. O cara que cantava as minhas músicas favoritas estava bem ali na minha frente. Lembro da roupa que ele usava, do cheiro, e até do meu momento mais fã girl de todos: só consegui falar pra ele "DINHO, EU TE AMOOO "
Ele riu e falou todo engraçadinho: Que exagero, velho!
Sei que falei mais alguma coisa, mas nem que eu quisesse consigo me lembrar. Já ouvi dizer que o nosso cérebro reptiliano acha que estamos em perigo pela adrenalina, e então apaga essas coisas da nossa mente por proteção.
Nesse momento eu aguardava minha vez de tirar foto e estava morrendo de medo de não conseguir salvar ou algo do tipo, mas quando minha vez chegou eu só pensava: "Cara, essa vai ter que ser A FOTO. Esperei muito por isso" . E com toda coragem do mundo, fui para o lado dele, dei um abraço, ele abaixou pra ficar do meu tamanho (fofo) aí eu simplesmente virei e dei um beijo no rosto dele, e ele segurou para não rir. Sorte que uma amiga minha na época, tirou na hora certa, e apesar de ser a noite a qualidade ficou até boa. Eu simplesmente AMO essa foto:

Sei que depois ele tirou foto com as meninas e mais uma galera, se despediu de nós e entrou na van. Eu ainda estava meio embasbacada e sem saber o que fazer. Conheci o cara que eu era fã depois de anos sonhando com isso. Foi melhor do que imaginei.
Lembro que depois o guitarrista do Capital, o Yves (sim ele era o cara da banda Viper) saiu e fui correndo também tirar uma foto com ele e com o Robledo Silva, que era tecladista deles na época.


Foi um momento tão especial, mesmo que rápido, que me lembro dele com muito carinho. E quando eu pensei que tinha acabado, eis que veio a cereja do bolo.
Lembram que falei sobre não ter ingresso e não saber como iria para o Parque de Exposições? Os problemas não resolvidos voltaram a tona. E em um passe de mágica, acabaram.
O Fê Lemos, o baterista saiu por último do hotel, nos reconheceu e veio até nós para conversar. Muito legal da parte dele. Então ele simplesmente nos perguntou como iríamos para o lugar do show. Parece até que adivinhou.
Contamos o perrengue e ele simplesmente nos chamou para ir na van de convidados. Foi um momento tipo "ISSO É SÉRIO?" e ele indicou a van e falou para entrarmos. Não pensamos duas vezes e fomos, empolgadas, falando pelos cotovelos o tempo inteiro, e escoltadas pelos batedores da polícia pelas ruas da cidade. (Achei chique)
Chegamos no lugar do show, agradecemos geral e entramos pelo backstage, onde a produção nos indicou para passar e detalhe: sem precisar de pagar o ingresso. A banda entrou para o camarim e só fui vê-los depois em cima do palco.
Tive a chance de ver o Dinho outra vez, anos depois, mas em breve conto essa história.
Sempre sonhei com o dia que conheceria minha banda favorita, e como falei, conheci e foi mil vezes melhor do que imaginei. O show que assistimos foi incrível e tocou as músicas que eu amava, mais algumas do meu álbum favorito deles, o Saturno. Para quem quiser ouvir https://open.spotify.com/intl-pt/album/33nrXgHUoRhHv4vZKj9wmf?si=tBiKFXFPQVmJ7mqZBYMKWQ
Guardo esse dia no meu coração, assim como as fotos e a palheta do Yves também.

FIM.


Muito boa a história e a narrativa empolgante, parabéns 🤘🏾
Que história, que momento!!! Deu pra sentir na pele a adrenalina desse dia memorável. Adorei como contou a história e os registros fotográficos não poderiam ter ficado melhores! Conte mais!!