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CONTOS DO ROCK: 1º Rock in Rio, Cassino Lótus e escolhas

  • Foto do escritor: Salivrando - Nay Coelho
    Salivrando - Nay Coelho
  • 29 de set. de 2024
  • 5 min de leitura

Atualizado: 29 de set. de 2024


Lembrei sobre como é complicado fazer escolhas enquanto eu ouvia uma banda de Brasília que eu adoro e sempre quis ver ao vivo, chamada "Dona Cislene". A situação foi bem parecida com o que o Fernando Sabino escreveu uma vez no livro "O encontro marcado" a respeito de o diabo dessa vida ser que, entre ter 100 caminhos, vamos escolher 1 e ter que conviver com a eterna nostalgia dos outros 99. Eterna injustiça, eu diria, mas enfim.


O ano era 2019. Aconteceu que finalmente pude realizar um dos meus sonhos de princesa, que era ir ao Rock In Rio. Me senti super adulta por estar realizando uma vontade antiga, em outro estado e viajando com as amigas longe dos pais, pela primeira vez. Foi especial porque na minha cabeça, ir a um evento desse era algo completamente longe da minha realidade.


No dia que fui, teriam quase todas as bandas que eu sempre ouvi, inclusive o Foo Fighters seria headliner dessa edição.


Fiquei tão ansiosa que acompanhava cada atualização sobre o evento, para tentar não perder nada. Até que a página do rolê postou que naquela edição teria também um palco novo, com bandas nacionais. Para minha alegria, vi que nesse palco teria uma que eu comecei a gostar depois de "grande", a Dona Cislene (Dona Cis, para os íntimos). Você pode escutar clicando AQUI


Eu não cabia em mim de tanta felicidade. Seria a cereja do bolo ter a chance de ver mais uma das minhas bandinhas do coração.


Então o tempo correu e o dia da viagem chegou.


Achei um máximo (e até um recadinho legal do universo) que quando estávamos esperando o ônibus para o Rio, do nada, olhei para uma pilastra no ponto da Cabana e vi um adesivo da Dona Cis colado lá. Tipo, quais as chances? Quem colou aquele adesivo ali?

Particularmente eu não conhecia ninguém que gostasse dessa banda por aqui, então na minha cabeça que adora romantizar tudo na minha vida, só podia ser um bom sinal de que o rolê daria certo.


O adesivo aí.


Esqueci de comentar, mas quando saiu o horário certo de cada show, vi que o da Dona Cis seria quase no mesmo horário do show que eu e as meninas queríamos ir também, do Detonautas. Eles tocariam junto com a Pavilhão 9 e prometia ser um showzásso. Só que isso para mim não seria problema, já que eu não entendia muito bem ainda a dinâmica de shows em festivais grandes.



Então depois de horas de viagem, chegamos no Rio de Janeiro, bem cedo. O que foi super favorável. Entramos assim que os portões abriram e não consegui parar de sorrir um minuto. Ficamos igual criança em playground assim que demos de cara com o famoso letreiro vermelho da Cidade do Rock.


Assim que você chega a música tema do festival "Uôuô Rock in Rio" fica tocando em looping e não sai da cabeça, o que dá uma sensação de felicidade absurda e dura semanas,. Juro.


Conhecemos algumas coisas, tiramos muitas fotos, enfrentamos filas, tentamos entender como tudo funcionava e depois a euforia inicial abrandou. Só que, apesar da nossa animação estar no grau, o tempo estava chuvoso, então, depois de andar muito, racionalmente, decidimos ir direto para o palco Sunset guardar lugar para ver o Detonautas, porque estava complicado ficar andando cheia de bolsas lá naquela situação de "tira capa de chuva/bota capa de chuva".


Como são muitas atrações, o certo (pensando como alguém que foi pela primeira vez) seria priorizar quais shows assistir, só que na minha mente entusiasmada, ia dar tempo de ver tudo, inclusive a Dona Cis. No mapa do evento tudo parecia perto e acessível para transitar, mas eu subestimei as distâncias e o tanto de pessoas. Os palcos ficavam bem longe uns dos outros.

Só que se você já foi ao Rock in Rio, sabe como a "Cidade do Rock" parece uma releitura do "Cassino Lótus" do livro Percy Jackson e os Olimpianos. Você perde a noção do tempo lá dentro. Isso é muito real.

Cena do filme Percy Jackson e os Olimpianos quando eles chegam no Cassino Lótus e comem uma das flores

(ok, o filme é ruim, mas essa cena é muito boa)



Enquanto estava na grade do Sunset, a hora simplesmente congelou sem que eu tivesse comido nenhuma florzinha de lótus. Parecia que estávamos lá há dias, então pensei comigo: "Poxa, já fui em vários shows do Detonautas e nenhum da Dona Cis". E quando eu digo vários, eu não estou exagerando.

Tinha algo me dizendo para me dar essa chance de tentar ver uma bandinha nova. Então decidi o seguinte: ir um pouco em um e um pouco em outro e pronto, tudo certo. Então, decidida, separei das meninas e do lugar privilegiado na grade e fui encarar o mar de pessoas até chegar no palco da Dona Cis.


Acontece que como estava chovendo, e tinha muita gente, eu comecei a desanimar no meio do caminho. Parecia que do nada o número de pessoas foi só aumentando e o palco que eles tocariam ficava cada vez mais longe e para o meu azar, eu não conseguia encontrar de jeito nenhum. Perguntei para algumas pessoas e ninguém sabia onde o raio do palco ficava.


Então tive que fazer uma escolha: Parei de andar, porque minhas pernas já estavam gritando "socorro". Um moço me informou onde era e olhei o tanto que ainda faltava para chegar na Dona Cis, mas a chuva começou a apertar. Então a única coisa que consegui pensar foi em voltar, com o coração dilacerado.

Como não sou muito provida de tamanho e na época, medrosa demais para ficar andando sozinha em lugar desconhecido, isso pesou demais na decisão. Foi mais fácil voltar para onde eu estava do que seguir em frente. E me convenci de que fiz uma boa escolha a cada passo que eu dava. Dei sorte de conseguir voltar para a grade no exato lugar que eu estava antes, junto das meninas.

A parte boa foi que aparecemos várias e várias vezes no Multishow, minha amiga deu entrevista para o Didi (que era VJ da MTV), curtimos um show sensacional e tivemos uma experiência incrível para lembrar o resto da vida.

Quando voltei para casa fiquei pensando que em outra oportunidade eu veria o show da Dona Cis, com mais calma e a atenção que eles mereciam. Isso me confortou um pouco.


Spoiler: A banda Dona Cislene encerrou as atividades logo depois do Rock in Rio.


Moral da história: Fazer escolhas sempre será um paradoxo, ou como dizia Fernando Sabino, o diabo dessa vida. Jamais saberei como seria se tivesse ido até o fim e escolhido o outra opção, e o que me aguardava lá no show da Dona Cis.

Eu não me arrependo da minha escolha, foi o certo na hora, mas é inevitável pensar como teria sido e até hoje convivo com a nostalgia do que não aconteceu. Isso deixa inúmeras respostas sem perguntas, mas sigo aqui torcendo para que a Dona Cis volte um dia e eu tenha a chance de ir.

Que não seja em um dia chuvoso no Rock in Rio.




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SALIVRANDO

 criado por    Nayara Coelho

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